quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Entrevista

Fonte: Revista Excelência - A Revista da FENASSEC. Ano 7 - nº 22, abril/maio/junho - 2009, p. 12 - 14 (ISSN 1984-9494)


 Secretariado Executivo:
   a ciência da assessoria
Tornar o Secretariado uma Ciência a partir do processo social e histórico da profissão. Esse foi o desafio de Raimundo Nonato Júnior, um bacharel em Secretariado Executivo, mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), que lançou o livro "Epistemologia e Gestão do Conhecimento em Secretariado Executivo: a Fundação das Ciências da Assessoria".
A obra, fruto de dez anos de dedicação aos estudos acadêmicos, trouxe para o professor, que é docente de Secretariado Executivo da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), inúmeras experiências, que vão desde a presidência do diretório acadêmico de Secretariado e monitoria, até a atuação na área em organizações públicas e privadas, culminando com a de pesquisador profissional na área de assessorias.
No entanto, sua enorme inquietação o levou aos estudos da Filosofia da Ciência e da Gestão do Conhecimento. Nonato realizou diversas pesquisas que investigaram situações de fronteira entre o Secretariado e as Teorias do Conhecimento. "Os resultados sempre apontaram para a necessidade de instaurar uma teorização para o conhecimento secretarial que é praticado no meio acadêmico, despertando nesta área sua identidade intelectual".
Com uma simplicidade incomum, Nonato Jr. falou para a reportagem da Revista Excelência, sobre os primórdios da pesquisa, a elaboração, o passeio pelo mundo filosófico e científico. "Iudo só foi possível com a contribuição fanstástica de estudantes, professores e profissionais".
Para adquirir o livro, o interessado deve enviar e-maíl com solicitação para
rjr1000@yahoo.com.br. O pedido será encaminhado para a equipe de distribuição. Esta, por sua vez, enviará o material-para qualquer lugar do Brasil ou do exterior por via postal. Conheça a entrevista na íntegra:


Revista Excelência - Como surgiu a idéia de considerar o Secretariado como ciência? Esta idéia surgiu desde meu ingresso no curso de Bacharelado em Secretariado Executivo na UFC, em 1999. Ao interagir com grupos de iniciação científica nas áreas de Ciências Humanas e Sociais percebi que ao conhecimento de Secretariado Executivo ser discutido nas universidades, ele produzia problemáticas de cunho acadêmico. Também observei que vários estudantes de nossa área mostravam-s descontentes com as seguintes dúvidas: Qual seria o diferencial acadêmico do Secretariado? Quais são os objetos e objetivos de estudo específicos deste campo do saber? Logo, a produção do Secretariado como Ciência não é uma responsabilidade somente minha, mas do próprio processo social e histórico que o construiu desta forma. O gue eu faço é trazer este debate à tona, provocando uma discussão que já é demanda pelos diversos estudantes, profissionais e docentes de Secretariado em todo o mundo.
A produção do seu livro teve por objetivo abordar também a gestão do conhecimento. Como a sociedade contemporânea realiza a gestão do conhecimento? A gestão do conhecimento é um tema muito recorrente no debate da sociedade atual. Isto porque estamos vivendo em um mundo complexo, repleto de redes sociais, informacionais e econômicas. Estas redes produzem um conhecimento transdisciplinar, na fronteira entre as demandas acadêmicas, profissionais e sociais. Por isso, a gestão do conhecimento atual é realizada numa perspectiva de "fundamentação integrada", ou seja, é necessário compreender os processos paradigmáticos da filosofia e da ciência aplicados ao cotidiano das pessoas, percebendo que a produção de conceitos se efetiva em consonância com os processos sociais.
Em que consiste a prática da assessoria? O trabalho empírico do profissional secretário é necessariamente marcado pelo ato de assessorar. Esta assessoria atua interligando realidades, conhecimentos, pessoas, níveis hierárquicos ou interrelacionais. O trabalho dos assessores ocorre em âmbito operacional, tático, executivo, intelectual ou interdisciplinar.\No domínio do conhecimento científico, esta área engloba o conjunto de questões epistemológicas, interdisciplinares, tecnológicas, teóricas e práticas ligadas ao objeto de estudo das assessorias. Este objeto articula-se em quatro grandes eixos: Assessoramento (Assessoria Operacional), Assessorexe (Assessoria Executiva), Assessorística (Assessoria Intelectual) e Assessorab (Assessoria Aberta).
Na sua abordagem sobre o conhecimento contemporâneo, o senhor explica que ele tem por objetivo romper com o racionalismo instrumental e possibilitar o diálogo com variadas possibilidades do conhecimento (corporeidade, espiritualidade, subjetividade). Como isso se dá? O conhecimento contemporâneo vem buscando romper aquelas amarras positivistas que nos prendiam a uma realidade segura, previamente fragmentada e estática. Na atualidade, o processo de evolução da sociedade demanda novas interpretações do conhecimento. Como diria Bachelard[1], em novos tempos se fazem necessárias novas abordagens científicas, novas percepções da realidade. Nesta perspectiva, não há como situar o homem apenas como um ser dotado de conhecimentos racionais, mas também como um agente produtor de conhecimentos por meio das mais diferentes pOSSibilidades de expressão. Assim, o mundo atual demanda pelos saberes que produzimos em nossas relações emotivas, intuitivas e corporais. Também há especial atenção ao debate sobre os valores humanos no mundo do trabalho, construindo-se um elo de reflexões sobre as implicações da subjetividade e espiritualidade humana em cada situação pesquisada. Em suma, abandona-se a idéia de neutralidade e buscam-se as "condições de possibilidade" reais presentes em cada sistema de produção de conhecimentos.
Esta é uma interessante questão, pois muitos pensam que a Ciência se processa independentemente aos acontecimentos sociais, mas ocorre exatamente o oposto: o diálogó científico é uma resposta às demandas e problemáticas que são constantemente produzidas pela humanidade. Logo, o fato do mundo estar em constante mudança não inviabiliza a existência da ciência, ao contrário, a torna ainda mais vivaz e atraente. Foi respondendo às mudanças da sociedade que as Ciências da Informação e as Ciências da Cómputação se tornaram indispensáveis ao convívio coletivo. É também nesta perspectiva que se pensa em uma abordagem teórica para as Ciências da Assessoria, entendida como algo dinâmico, em plena interação com as demandas profissionais e sociais que envolvem todas as formas do fazer e do saber em situação de assessoria.
Como evoluiu o Secretariado? O desenvolvimento do Secretariado aconteceu em duas grandes vertentes: a profissional e a acadêmica. Nesta área ocorre evidentemente uma grande integração entre estas duas áreas. Assim, ao passo em que a profissão foi se organizando profissionalmente ao redor do mundo, ela foi abrindo espaço para formações' educacionais mais complexas, como - no caso do Brasil- os cursos superiõres. Este nível educacional possibilitou a entrada do Secretariado nas universidades, motivando diversos intelectuais ao levantamento de, indagações sobre o trabalho e o conhecimento das assessorias. Nesta perspectiva, houve um "ciclo ascendente" no qual a produção de conhecimentos em Secretariado foi se desenvolvendo ao passo em que a profissão abria novas frentes de atuação técnica, tecnológica e gerencial. Desta forma, cada profissional que revolucionou o trabalho das assessorias em escritórios, bem como cada líder sindical que lutou pela categoria profissional, contribuiu para que houvesse uma demanda por conhecimentos mais amplos nas áreas das assessorias.


Como é possível pensar em abordagem científica num mundo em constante mudança? Esta é uma interessante questão, pois muitos pensam que a Ciência se preocessa independentemente aos acontecimentos sociais, mas ocorre exatamente o oposto: o diálogo científico é uma resposta às demandas e problemáticas que são constantemente produzidas pela humanidade. Logo, o fato do mundo estar em constante mudança não inviabiliza a existência da ciência, ao contrário, a torna ainda mais vivaz e atraente. Foi respondendo às mudanças da sociedade que as Ciências da Informação e as Ciências da Computação se tornaram indispensáveis ao convívio coletivo. É também nesta perspectiva que se pensa em uma abordagem teórica para as Ciências da Assessoria, entendida como algo dinâmico, em plena interação com as demandas profissionais e sociais que envolvem todas as formas do fazer e do saber em situação de assessoria.

O que é Epistemologia? É importante entender de início que-a Epistemologia é um discurso a respeito do conhecimento, é uma abordagem filosófica que estabelece e avalia o saber e o fazer de um determinado conhecimento científico. Nossa proposta se debruça sobre a Epistemologia em dois momentos: 1 ° quando ela é tomada como Filosofia da Ciência, impondo ao conhecimento científico as questões basilares para seu reconhecimento e demarcação. Esta perspectiva é comum nas correntes epistemológicas européias, sobretudo as francesas. E 2° quando ela é tomada por uma teoria para elaboração específica de um determinado conhecimento, tendo objetivo de ir além das questões clássicas - epistemológicas e avançando para a demarcação do campo específico de uma ciência que se deseja teorizar. Esta perspectiva é bastante utilizada pelas correntes científicas norte-americanas. Por isto o livro traz em seu titulo "Epistemologia e Teoria do Conhecimento em Secretariado Executivo", demonstrando que a epistemologia aqui é utilizada tanto para propor às clássicas questões cient(ficas ao conhecimento das assessorias como também para teorizar o campo de atuação desta nova área acadêmica.
E o que é epistemologia no Secretariado? No Secretariado, a epistemolouia exerce o papel de instaurar, teorizar e avaliar o conhecimento produzido em relações de assessoria. Neste caso, pensa-se: Qual o objeto de estudo desta área? Quais são suas fronteiras? Que obstáculos existem para que este conhecimento possa se instaurar? Como teorizar as situações práticas que já são constantemente vivenciadas na produção dos conhecimentos secretariais? Com estas reflexões epistemológicas o Secretariado poderá demarcar melhor seu espaço de atuação nas universidades, empresas e, sobretudo, na estrutura política e no imaginário social. Realizando um discurso sobre o conhecimento das assessorias, é possível demarcar elementos de autonomia e identidade profissional, pois permite-se que o Secretariado seja percebido como foco dos conhecimentos de assessoria, enquanto as outras áreas que o compõem são entendidas enquanto relações interdisciplinares.
No seu livro, o senhor lança a Teoria Geral do Secretariado. Em que consiste esse conceito científico? A Teoria Geral do Secretariado (TGS) cumpre basicamente três papéis: 1 ° realiza uma ponte entre os conceitos das Ciências da Assessoria e as práticas profissionais de Secretariado; 2° trata de relacionar as diversas microteorias que compõem o Secretariado, realizando uma rede que evidencia como o Objeto de estudo do Secretariado está presente em cada uma das suas subáreas e como e porque o conjunto destas subáreas constitui-se como Secretariado quando elas estão reunidas; e 3° oferecer um canal teórico de produção e análise de conceitos interdisciplinares em Secretariado Executivo. Assim, a TGS cumpre o papel de orientar, coordenar, inter-relacionar e gerenciar os diversos conteúdos aplicados da área de assessoria.


1]- BACHELARD, Gaston. La formation d e I'esprit scientifique. Paris: Vrin, 1998.


PERFil


Raimundo Nonato Júnior é bacharel em Secretariado Executivo (SRTE/CE nO. 821) e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Departamento de Secretariado Executivo da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro).
Pesquisador nas áreas de Epistemologia, Educação e Pesquisa em Secretariado Executivo. Fundador dos seguintes domínios de estudo: Ciências da Assessoria, Epistemologia do Secretariado Executivo, Teoria Geral do Secretariado (TGS)
e Assessoria Interdisciplinar.



Atualmente coordena e orienta divérsos grupos de pesquisa e extensão nas áreas de Secretariado, Ciência e Educação. Atua também com formação de educadores e como consuttor educacional e organizacional.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Gestão dos Recursos da Informação nas Ciências Sociais Aplicadas: uma abordagem para Secretariado Executivo


Resumo registrado no evento sob nº 107 - II Congresso de Ciências Sociais Aplicadas
24 a 28 de setembro de 2007 - Guarapuava/PR
NONATO JUNIOR, Raimundo. Gestão dos Recursos da Informação nas Ciências Sociais Aplicadas: uma abordagem para Secretariado Executivo. Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO. II Congresso de Ciências Sociais Aplicadas. Guarapuava, 2007.

Palavras-chave: RECURSOS DA INFORMAÇÃO, GESTÃO, CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS, SECRETARIADO EXECUTIVO
Área de Conhecimento: Administração

O presente trabalho relata o processo e os resultados de uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2006 sobre Gestão dos Recursos da Informação (G. R. I.) nas Ciências Sociais Aplicadas. Esta investigação teve por objetivo identificar a abordagem dada pelo profissional de Secretariado Executivo à G. R. I. A motivação para exploração do tema surgiu a partir da observação de indícios que apontavam para a existência de peculiaridades na produção e no uso da informação gerenciada pelo profissional de Secretariado. A metodologia deste estudo foi composta de três fases: 1) análise bibliográfica; 2) investigação documental e 3) pesquisa de campo, realizada por meio de observação participante no cotidiano organizacional. Os resultados apontam para três categorias que relacionam a profissão de secretariado e a gestão da informação, são elas: ampliação conceitual da informação, instruções normativas e demandas organizacionais. Desta forma, a pesquisa possibilita uma compreensão minuciosa de como a G. R. I. é abordada na assessoria organizacional.

A ciência secretarial e os recursos da informação: uma análise das peculiaridades da G.R.I. na profissão de Secretariado Executivo


NONATO JUNIOR, Raimundo. A ciência secretarial e os recursos da informação: uma análise das peculiaridades da G.R.I. na profissão de Secretariado Executivo.
Palavras-chave: Ciências da Assessoria, Secretariado Executivo, Gestão dos Recursos da Informação.
Resumo:


O presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa feita sobre o uso e Gestão dos Recursos da Informação (G.R.I.) na área de Secretariado Executivo. A referida pesquisa foi realizada no ano de 2006, na cidade de Fortaleza-Ce, investigando quais seriam as peculiaridades da gestão informacional em tal área do conhecimento. Para tanto, foi feita pesquisa exploratória por meio de três etapas que trazem definição e análise das categorias produzidas.

Introdução:


O Secretariado Executivo vem – particularmente – demonstrando novas significações sobre uso e abordagem da gestão informacional. Paulatinamente, a Ciência Secretarial deixa de ser vistas sob a óptica das ‘funções complementares e burocráticas’, para ser considerada como integrante do ramo das Ciências Estratégicas que são decisivas na qualidade do trabalho organizacional. Nesta perspectiva, a informação ultrapassa os meros equipamentos automatizados e é percebida como amplo processo simbólico de revolução do mundo do trabalho.
A partir de então, os profissionais de Secretariado vêm se deparando, em seus locais de atuação, com as seguintes questões: como abordar a gestão dos recursos da informação nos trabalhos de assessoria organizacional? Em que aspectos a gestão informacional feita pelo profissional de Secretariado Executivo se diferencia daquela realizada por outros colaboradores do ambiente de trabalho?
Em busca de indícios que resultassem em uma melhor compreensão das indagações referidas acima, realizou-se uma pesquisa que teve por objetivo geral: analisar as formas de abordagem da gestão informacional em Secretariado Executivo. A referida investigação ocorreu entre os meses de janeiro a julho de 2006, na cidade de Fortaleza – capital do Estado do Ceará.

Materiais e Métodos:


Esta investigação foi desenvolvida por meio de pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, em três etapas: 1) Investigação teórico-bibliográfica (em livros, jornais, revistas, sites e sistemas de G.R.I.); 2) Investigação Documental (nas leis que regem a profissão de Secretariado Executivo – Regulamentação, Código e Ética e Diretrizes Curriculares Nacionais), objetivando mapear as diretrizes sobre gestão informacional para Secretariado nos respectivos documentos; 3) Investigação de Campo, por meio de observação participante no cotidiano laboral de três Secretários Executivos que trabalham diretamente com gestão dos recursos da informação.

Resultados e Discussão:

Os achados da pesquisa levaram a elaboração de três macro-categorias que resumem as peculiaridades da G.R.I. na profissão de Secretariado, são elas: expansão conceitual, instrução normativa e demanda organizacional.
A primeira categoria, denominada Expansão Conceitual, remete-se ao entendimento que o profissional de Secretariado tem sobre o que é informação. Vale salientar que um conceito não se restringe apenas há uma definição. Conceituar significa produzir uma óptica criadora de percepção e análise do mundo em que se vive, ou seja, é um ato de intervenção prático-filosófica dentro do contexto em que se atua (DELEUZE & GUATTARI, 1992).
Na observação realizada, bem como nos estudos bibliográficos, foi possível comprovar que o trabalho secretarial contemporâneo exige tais compreensões conceituais: a informação enquanto dimensão simbólica partilhada e a informação enquanto fundamento das comunicações empresariais.
Os dados que levaram a formulação da segunda categoria surgiram, basicamente, das três fontes documentais pesquisadas: a regulamentação profissional de Secretariado Executivo, o código de ética da profissão de Secretariado e as diretrizes curriculares nacionais para o ensino de Secretariado.
Para a análise destes documentos, procedeu-se inicialmente a um mapeamento quantitativo. Para tanto, os documentos foram analisados buscando-se: a) identificar se abordavam o assunto informação em seu texto e se o destacavam perante os demais conteúdos abordados e b) se continham um artigo dedicado ao tema informação no corpo do texto e se o relacionavam com o a proposta geral do documento.
Para efeito de tabulação dos dados, foi considerada uma escala de 0 a 1 ponto, na qual foi-se atribuído: 1 ponto para as análise que resultassem na resposta SIM; 0,5 para as que resultassem em PARCIALMENTE e 0 para as análises que evidenciassem a resposta NÃO.
Após tal estruturação dos dados, foi possível constatar 100% de satisfação na análise documental referente ao item A e 75% na que se referia ao item B, sendo então considerados que as atuais leis da profissão tanto incentivam a gestão informacional em Secretariado como a destacam como importante ferramenta de trabalho.
A produção de dados que levou a elaboração da terceira categoria de pesquisa (demanda organizacional) foi obtida, principalmente, por meio da pesquisa de campo. Nesta, observou-se o cotidiano de três profissionais de assessoria executiva. Estas observações ocorreram em dias e horários alternados, somando-se ao final 20 horas de acompanhamento ao trabalho de cada profissional, com duração total de 3 meses.
Nestas ocasiões, captaram-se as principais demandas do ambiente organizacional para a gestão da informação realizada por estes profissionais e observou-se que tais demandas se relacionavam intensamente com os achados analisados nas categorias anteriores, permitindo evidenciar aquilo que havia sido questionado na segunda pergunta da pesquisa. Procedendo-se à análise dos dados elaborados nesta etapa, chegou-se a afirmação de que o trabalhão de G.R.I. do secretário executivo se desenvolve por meio das seguintes peculiaridades: habilidade de leitura e comunicação bilíngüe (inglês/português) na área técnico-informacional; capacidade de pré-gestão dos sistemas a serem trabalhados pelo executivo e prática intensiva dos valores éticos do sigilo e do discernimento.

Conclusões:
Em suma, entende-se que são muitas as peculiaridades as quais a gestão informacional está submetida na prática laboral do assessor executivo. Portanto, os materiais / treinamentos dados a estes profissionais sobre o referido tema devem ser direcionados à sua práxis, devendo ser – preferencialmente – coordenados por um profissional que possua bacharelado em Secretariado Executivo e experiência em uso e abordagem da informação no ramo de assessoria.


Esta mudança de perfil reflete o longo processo pedagógico que esta profissão vem passando recentemente (NONATO JÚNIOR: 2000) e traz consigo diversos desafios. Dentre estes, é possível destacar a grande valorização dos recursos da informação que o profissional de secretariado gerencia. Uma vez que os recursos sob responsabilidade do secretário são mais valiosos – tanto em termos financeiros como estratégicos – o profissional também passa a ser visto de maneira mais valorosa.
Torna-se indispensável salientar que a pesquisa revelou grande associação entre as áreas de Ciências da Informação (Biblioteconomia) e as Ciências da Assessoria (Secretariado Executivo). Assim, esta ciência pode enriquecer-se ao buscar elementos referenciais naquela, uma vez que o olhar sobre a informação em ambas tem seu foco no profissional gestor. Outra importante aproximação é revelada ao se analisar que ambas as áreas trabalham com articulação entre os setores técnicos e seus executivos nas organizações.

Bibliografia:

BIO, Sérgio Rodrigues. Sistemas de informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1996.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº. CES/CNE 0102, de 11 de março de 2004. Aprova as diretrizes curriculares nacionais ao curso de Secretariado Executivo. (1982).
_______. Lei nº. 7.377 de 30 de setembro de 1985. Dispõe sobre o exercício da profissão de secretário e dá outras providências. (1985).
_______. Código de Ética da Profissão de Secretariado Executivo. Publicado em 7 de junho de 1989 no diário oficial da união (1989).
DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O que é a Filosofia. Editora 34, 1992.
MORIN, Edgar. Teoria da Complexidade. Publicações Europa-America, 1996.
NONATO JÚNIOR, R. Desafios pedagógicos da Ciência Secretarial. Comunicação apresentada no I Encontro de Produção Científica em Secretariado da UFC (mimeo). Fortaleza, 2000.
REZENDE, D. A. & ABREU, A. F. Tecnologia da informação aplicada a sistemas de informação empresarial: o papel estratégico da informação e dos sistemas de informação nas empresas. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

Educação Superior em Secretariado Executivo: uma análise dos projetos político-pedagógicos dos cursos de Secretariado Executivo em Guarapuava

Mattiollo, Gerciele Luzia; Ramos, Silmara Paganini; Nonato Junior, Raimundo. Educação Superior em Secretariado Executivo: uma análise dos projetos político-pedagógicos dos cursos de Secretariado Executivo em Guarapuava. Guarapuava, 2008. (Todos os direitos reservados)

Palavras-chave: Secretariado Executivo, Projeto Político-Pedagógico, Educação Superior

Introdução


O presente trabalho apresenta uma pesquisa em andamento sobre a Educação em Secretariado Executivo. A referida pesquisa está sendo realizada no ano de 2008, com o objetivo de investigar os perfis pedagógicos dos currículos de dois cursos de Bacharelado em Secretariado Executivo em duas Instituições de Ensino Superior – IES, no município de Guarapuava. Para tanto, realizam-se análises dos Projetos Políticos Pedagógicos – PPPs – desses cursos em relação às Diretrizes Nacionais para o curso de Secretariado Executivo.
Dessa forma, a partir das análises, tem-se a pretensão de compreender a proposta pedagógica que permeia a formação dos secretários executivos e suas relações com as atuais demandas para o ensino de Secretariado Executivo, observando como essas propostas delineiam o perfil pedagógico dos seus cursos.
O estudo dos PPPs é propício para o entendimento do perfil que a instituição de ensino concebe da formação do secretário executivo e se está satisfatoriamente qualificada para suprir as demandas do mundo do trabalho regional.
A profissão de Secretariado Executivo se renova e, cada vez mais, se firma por caracterizar-se como abrangente, por possibilitar atuação nas mais diversas áreas, não só empresarial como também educacional, pois “O conhecimento secretarial já atinge tamanha complexidade de experiências e pesquisas que necessita da discussão de uma Teoria do conhecimento própria, afirmando seus objetos e objetivos de estudo, fortalecendo o Secretariado em sua unidade de informação” (NONATO JÚNIOR, 2008, p.09).

Método


A pesquisa visa esclarecer fatores relevantes no que diz respeito aos desafios inerentes a elaboração dos PPP´s do Curso de Secretariado Executivo em duas instituições de Ensino Superior de Guarapuava – Paraná. Um dos PPP´s é de uma instituição da rede privada, ofertado em regime semestral. Enquanto que os outros três são atualizações de Projeto Pedagógico de uma instituição pública, que oferta o curso em regime anual. Os PPP´s, desta última instituição, compreende: o Projeto Político-Pedagógica de 2001; o Projeto Político- Pedagógico de 2005; e o Projeto Político-Pedagógico a ser aprovado, que entrará em vigor em 2009.
Esta investigação é desenvolvida por meio de pesquisas bibliográficas e documentais, utilizando-se do método dedutivo, o qual será usado para descobrir a situação problemática da realidade onde a pesquisa está sendo feita, para que assim seja possível buscar subsídios que objetivem esclarecer e compreender o problema levantado.
Partindo do estudo da legislação vigente e da leitura de documentos oficiais dos cursos, pretende-se compreender como ocorreu a organização curricular do curso de Secretariado Executivo nas duas instituições do referido município. A partir da situação em que se encontram os currículos do curso de Secretariado Executivo, as análises objetivam apresentar uma visão aprofundada e direcionada para um maior estudo de como se dá a formação pedagógica do secretário executivo, e não deduzir ou propor outra realidade.
No que concerne ao andamento do trabalho, está sendo realizado as análises dos Projetos Político-Pedagógico das instituições. Para Lakatos e Marconi (1985, p. 99) “O projeto é uma das etapas componentes do processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa”.
Também, realizam-se levantamento de dados e informações dentro da perspectiva que interessa à pesquisa, selecionando-os para, assim, determinar a formação de conceitos claros e distintos que serão necessários para a elaboração do Relatório Final desta investigação.

Resultados e discussão


Os documentos analisados levaram a elaboração de categorias que foram distribuídas em função das relações de convergência, divergência e complementariedade em cada um dos documentos. Estas categorias foram confrontadas às entrevistas realizadas com os chefes de departamentos de ambas as IES que ofertam os cursos, objetos do presente estudo.
Em um primeiro momento, buscou-se extrair as informações presentes nos documentos oficiais de ambas as instituições. Dessa forma, foi possível mapear as principais características de cada um dos projetos. Como passo seguinte da pesquisa a categorização das informações obtidas por meio das entrevistas.
Todos esses dados foram relacionados às recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais - DCN - para os cursos de Secretariado Executivo aprovadas pela Resolução CES/CNE 3/2005, que dispõe como deve ser a organização curricular dos Cursos de Secretariado Executivo, na modalidade de bacharelado. De acordo com Castelo (2008, p. 04) “As diretrizes Curriculares Nacionais como todas as conquistas na área de Secretariado Executivo surgiram devido à luta de seus profissionais e à necessidade de adequar as constantes e profundas transformações ocorridas na profissão à realidade das exigências do mercado”. Dessa forma, averigua-se que tal documento fomenta os anseios da categoria em se profissionalizar e, assim, valendo-se da legislação fomentar uma formação de qualidade.
As DCN para os cursos de Secretariado Executivo (BRASIL, 2005) em seu Parágrafo Segundo dispõe que os cursos poderão admitir linhas de formação específicas, nas diversas áreas de atuação desse profissional para melhor atender às necessidades do perfil que o mercado ou a região exigirem. Por isso, justifica-se as três reformulações realizadas no PPP pelo departamento de Secretariado Executivo da UNICENTRO - DESEC. Dessa maneira os egressos do curso terão maior empregabilidade e formação conveniente às necessidades do mundo do trabalho tanto do município de Guarapuava como em sua região de abrangência.
Outra constatação feita é que a partir da instalação do DESEC em 2007, houve um aumento significativo no número de docentes do próprio departamento, o que possibilita que o formador seja oriundo da profissão de secretariado. O que contribui, também para que a nova grade contemplasse uma maior carga horária para disciplinas que dizem respeito a eventos, tais como cerimonial e protocolo, foi a criação de Consultoria Junior Executiva - COJEX, tornando-se necessária maior enfoque sobre o assunto, subsidiando assim a atuação dos acadêmicos nos diversos eventos de responsabilidade da COJEX.
Outro viés abordado, e de caráter atual foi a inclusão na nova grade de três disciplinas que englobam assuntos indispensáveis atuação do profissional atual de secretariado, que são: Teoria Geral do Conhecimento em Secretariado, Secretariado em Setores públicos e Responsabilidade Social e Profissional de Secretariado.
Um terceiro ponto observado na elaboração do novo PPP é o direcionamento específico e pertinente ao secretariado, levado em consideração no que as disciplinas de língua inglesa e espanhola devem propiciar a formação do Secretário Executivo.

Considerações Finais

Em suma, observa-se que o estudo dos PPPs torna-se uma ferramenta importante nas concepções e entendimento de como se dá a formação do Secretário Executivo, permite também saber se esse perfil pretendido atende a demanda atual do mundo do trabalho.
Fato importante também é saber se as IES estão atentas sobre o que diz a legislação vigente e dessa forma estar atenta as mudanças de mercado. A reformulação dos Projetos Pedagógicos de Secretariado deve acontecer e ter a finalidade de formar alunos que tenham o perfil desejado pelas empresas, pelo mundo do trabalho e pela academia intelectual.
As indagações iniciais foram respondidas, entretanto, esta pesquisa encontra-se em realização de uma segunda fase, complementando os dados bibliográficos e documentais aqui expostos com pesquisa de campo e análise transversal.

Referências

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer n.º CES/CNE 0102, de 11 de março de 2004. Aprova as diretrizes curriculares nacionais ao curso de Secretariado executivo.
NONATO JUNIOR, Raimundo. Epistemologia do Secretariado Executivo: por uma teoria do conhecimento em Secretariado. 2008. Disponível em .
CASTELO, Janaina Marcia. A formação Acadêmica e a atuação profissional do Secretário Executivo. 2008. Disponível em .
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:Atlas, 1983.

sábado, 22 de agosto de 2009

Epistemologia do Secretariado Executivo

NONATO JUNIOR, Raimundo. Epistemologia do Secretariado Executivo: por uma teoria do conhecimento em Secretariado. XVI CONSEC, Brasilia, 2008. Disponível em: http://www.fenassec.com.br/

Resumo


Os conhecimentos empíricos e teóricos em Secretariado Executivo tornam-se constantemente mais complexos, demandando que se estabeleçam teorizações e discussões com os saberes científicos. Nesta perspectiva, o presente artigo propõe reflexões sobre a Epistemologia do Secretariado Executivo, analisando se há demanda para estudos em Teoria do Conhecimento Secretarial. Para tanto, investigam-se os principais obstáculos e características do saber nesta área, debatendo-se a natureza de seu conhecimento. No que concerne à metodologia, a referida pesquisa segue abordagem qualitativa, com estudos descritivos e exploratórios. Utilizam-se pesquisas bibliográficas, documentais e de campo. Esta última feita por meio de acompanhamento de discentes em Secretariado e ciclos de debates. Em suma, os resultados apontam para necessidade de ampla articulação ente epistemologia, teoria e prática para que o Secretariado Executivo se legitime como expressiva área do conhecimento científico.

1. Apresentação e Metodologia da Pesquisa
Para cada história oficial,
existe outra enrolada como um caracol.
(PIÑON, 1996).

O presente artigo relata alguns processos e resultados da pesquisa Secretariado Científico, realizada na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO. A referida investigação tem por objetivo compreender a possível necessidade de uma teoria do conhecimento em Secretariado, analisando como esta epistemologia possa auxiliar na afirmação do Secretariado Executivo como área do saber científico.
O interesse por tal temática surgiu ao longo de dez anos de observações e pesquisas na área secretarial (como estudante, profissional e docente - respectivamente) e pelos resultados de estudos realizados anteriormente sobre as relações entre Secretariado e Ciência, percebendo-se grande relevância e necessidade de melhor compreender as relações teórico-filosóficas do conhecimento na área de Secretariado Executivo.
Na ciência contemporânea, tem-se mostrado cada vez mais necessário à compreensão das áreas do conhecimento de maneira integrada e transversal, sendo preciso entender desde suas motivações técnico-operacionais até sua proposta epistemológica (MAGALHÃES; BARRETO, 2000). Assim, silenciar sobre uma destas dimensões seria cooptar parte da capacidade criadora de uma área de conhecimento.
Então, tendo em vista que não se conhece - até a atualidade - estudos aprofundados de natureza epistemológica em Secretariado Executivo, foram formuladas as seguintes indagações de pesquisa:
Há relevância em propor uma teoria do conhecimento – epistemologia - em Secretariado? Quais seriam as demandas e desafios ao estabelecimento de tal epistemologia?
Acredita-se que a importância deste tipo de pesquisa justifica-se pela necessidade que há na área de Secretariado Executivo em debater temas contemporâneos ligados às relações científicas e culturais da profissão, além de fortalecer os laços teóricos que sustentam o conhecimento secretarial. Partindo desta premissa, busca-se potencializar questões silenciadas na profissão secretarial, ou como diria Marilena Chauí (1990, p. 59), deseja-se fazer falar o silêncio por meio da pesquisa e dele extrair tudo que possa problematizar, esclarecer e valorizar as dimensões do saber em Secretariado.
Para tanto, traçam-se caminhos e maneiras de caminhar, construindo-se uma metodologia que dialogue com suas condições de possibilidade (NONATO JÚNIOR, 2005). Foi nesta perspectiva de desafio que se realizou a presente investigação.
No concernente ao andamento metodológico, foi realizada Pesquisa Descritiva de caráter exploratório, busando-se observar, descrever, registrar, analisar e inter-relacionar conhecimentos, teorias e fatos (LESCHER & MATOS, 2002). A abordagem é de cunho qualitativo, uma vez que a pesquisa qualitativa é aquela que prima pela significação e contextualização dos dados e não da mera exposição das informações em si (MARCONI & LAKATOS, 2007).
Quanto aos procedimentos investigativos, recorreu-se às pesquisas bibliográfica e documental, à observação participante e ao mapeamento inicial dos trabalhos de campo. Em todas as etapas da investigação houve a utilização do diário de pesquisa como instrumento de registro. Por fim, foram realizadas análises transversais de conteúdo.
A aplicação destes procedimentos ocorreu na seguinte distribuição:
1) Pesquisa bibliográfica, realizada em dois momentos. Primeiramente, realizou-se o Levantamento Bibliográfico necessário à fundamentação teórica do estudo, como é habitual em investigações científicas. Tal levantamento teve por foco os temas: Epistemologia, Teoria do Conhecimento e Ciência, estudados em obras clássicas e contemporâneas destas áreas.
Em um segundo momento, avançou-se para a Teorização Bibliográfica. Esta, por sua vez, trata de categorizar os estudos teóricos feitos, de maneira a possibilitar uma lista possíveis focos de análise. Estes, por sua vez, são escolhidos de acordo com sua relação com os outros procedimentos de produção de dados à guisa de análise e discussão dos resultados. Tendo em vista ser esta uma pesquisa de cunho epistemológico, o material teórico é mais do que mero aparato de mapeamento prévio, sendo fonte produtora e analisadora de dados. Desta forma, além dos temas citados no momento anterior, foram mapeados estudos que se relacionem diretamente com “Teoria do conhecimento em Secretariado”, visando elucidar possíveis categorias de discussão para esta pesquisa.
2) Pesquisa documental, também realizada em duas fases. Inicialmente, foi realizado mapeamento documental na Regulamentação Profissional (BRASIL, 1996) e nas Diretrizes Curriculares (BRASIL, 2004) da profissão de Secretariado Executivo. Nestes documentos da profissão secretarial, foram analisadas as indicações que os mesmos poderiam oferecer quanto à necessidade da amplitude de conceitos, teorias e conhecimentos na área de Secretariado.
Em segundo lugar, foram analisados os projetos de pesquisa científica da turma em observação na pesquisa de campo. Os referidos projetos foram analisados em quatro momentos: a - definição do objeto de pesquisa; b - relação tema/ revisão teórica/ teoria secretarial, c - andamento metodológico e d - projeto final. Estas fases aconteceram do primeiro semestre de 2007 ao início de 2008. Durante todo o processo foi utilizado o diário de pesquisa para registro das categorias mapeadas.
3) Pesquisa de campo, feita por meio de observação participante e ciclo didático de debates em disciplina ministrada pelo autor sobre Elaboração de Projetos de Pesquisa em Secretariado, na universidade onde ocorreu a pesquisa. A observação ocorreu durante toda a realização das atividades didáticas da disciplina e nas oficinas de produção dos projetos, seu registro foi realizado sistematicamente em diário de pesquisa. Os ciclos didáticos foram realizados por meio de oficinas semestrais, uma em 2007.1 e outra em 2007.2. Nestes momentos, os discentes posicionaram-se quanto às principais dificuldades ao estabelecimento do saber científico em Secretariado, além de salientar as características peculiares desta área de conhecimento. Para tanto, utilizaram como base dialógica seus projetos em andamento, enfocando as mesmas quatro fases descritas anteriormente na análise de projetos. O diário de pesquisa também foi o instrumento de registro e categorização dos dados produzidos nestas ocasiões. Vale salientar que tanto os discentes como a instituição mantenedora da investigação sabiam, integralmente, da realização da pesquisa de campo aliada à docência. A este respeito, Demo (2005) salienta que o espaço mais fértil para a produção epistemológica é aquele onde aconteçam processos práticos de ensino-aprendizagem da mesma natureza que se deseja teorizar.

4) Análise de conteúdo


Para categorizar os dados rumo aos possíveis resultados e encaminhamentos, utiliza-se a análise de conteúdo. A especificação dos grupamentos de conteúdo deste estudo fica detalhada na terceira tópica, quando se apresentam os critérios de elaboração das categorias de análise.

2. Entendendo a EPISTEMOLOGIA e sua importância para a afirmação das áreas do conhecimento

O termo Epistemologia pode ter várias designações, dentre elas as mais comuns são: Teoria do Conhecimento, Filosofia das Ciências e Ciência da Ciência. De forma literal, a palavra Epistemologia, de origem grega, origina-se das seguintes raízes: Episteme = ciência, conhecimento e Logos = discurso, teorização.
A noção de Epistemologia também se relaciona diretamente com o conceito de Gnosiologia que, por sua vez, trata de estudar a natureza do conhecimento, bem como sua validade nas diversas áreas do saber. Gnose = conhecimento superior; avaliação do saber (ABBAGNANO, 1982). Por isso, a Epistemologia é também considerada como uma “corregedoria da ciência”, avaliando as condições de possibilidade das áreas do conhecimento (FOUCAULT: 1990), bem como, analisando os limites, potências e caminhos de cada uma das áreas do saber humano. O Dicionário de Filosofia de Lalande (1985, p. 67) explica que:

É essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos
resultados das diversas ciências, destinado a determinar sua origem
lógica, seu valor e seu alcance objetivo.

Assim, a questão central da epistemologia é analisar a possibilidade de criação, conceituação, manutenção, validação e afirmação dos conhecimentos. De acordo com Japiassu (1982) quando se investiga uma Ciência, as principais questões epistemológicas são: o que é conhecer? O que se pode conhecer? Como se pode conhecer? Como se articula este conhecimento com outras áreas e em suas especificidades?
A necessidade de se compreender o mundo epistemologicamente tem sido percebida desde a época dos antigos estudiosos gregos. Platão (séc. IV a. C.), considerado por muitos especialistas como um dos fundadores da Epistemologia, propôs a separação conceitual entre opinião (doxa) e conhecimento (PLATÃO, 2000). Para que se possa conhecer qualquer objeto, este filósofo propõe a urgência do saber que, ou seja, da criação de um campo de estudos capaz de teorizar, de maneira ampla e sistemática, o fazer prático dos homens.
De tal idéia, encontra-se o nascimento de uma Ciência da Ciência, em que as áreas do saber estudam a si próprias, verificando suas características, seus obstáculos e suas especificidades, buscando um “corpo epistemológico” que oriente os estudos teóricos e empíricos que tratam das questões do fazer no cotidiano e no trabalho.
Nesta perspectiva, o ramo da epistemologia que interessa especificamente aos estudiosos de áreas particulares é o da Epistemologia Específica que, por sua vez,

trata de levar em conta uma disciplina intelectualmente constituída
em unidade bem definida do saber, e de estudá-la de modo próximo,
detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu funcionamento
e as possíveis relações que ela mantém com as demais disciplinas
(JAPIASSU, 1992, p. 17).

Quando a Epistemologia Específica é realizada em áreas da Ciência, ela se caracteriza como Epistemologia Científica.
Na atualidade, a complexidade das diversas áreas do conhecimento científico provoca a existência das epistemologias que pensam especificamente cada um destes domínios. Isto não quer dizer que este tipo de epistemologia corte seus laços com a Filosofia (IDEM, p. 30). O que acontece é a “nutrição” das áreas científicas com proposições filosóficas que somente têm sentido se investigadas pelos intelectuais que atuam profissionalmente nestes domínios e, logo, compreendem de maneira singular as problemáticas e os caminhos macro-estruturais capazes de orientar teorias e práticas em cada uma das áreas do conhecimento. Assim, a epistemologia guarda sua autonomia relativamente à Filosofia, mas permanece solidária a ela numa integração profunda (JAPIASSU, 1992, p.37).
Desta forma, instaurar uma Epistemologia passa a ser um objetivo importantíssimo para qualquer ciência ou área do saber que queira se legitimar socialmente e filosoficamente, fundando categorias e teorias que sustentem os mais diversos processos empíricos e técnicos realizados em uma profissão. Além disso, Blanché (1992) acrescenta que os estudos epistemológicos são também responsáveis por definir os critérios de cientificidade de uma área ou conhecimento peculiar, sendo então indispensáveis para que um ramo profissional se legitime e se credibilize como área do conhecimento científico.
Neste sentido, a compreensão epistemológica realiza uma arqueologia do saber (FOUCAULT, 2000), ou seja, trata de lançar dispositivos para entender como funciona o sistema do conhecimento em uma determinada ciência, bem como sua estrutura simbólica e seus caminhos de produção teórica. Busca-se, então, compreender os processos de elaboração e evolução cognitiva de uma área do conhecimento, mapeando suas peculiaridades, similaridades e diferenciações com outros saberes de natureza similar, visando-se – ainda – melhor compreender as propriedades de seu objeto de estudo. Assim, importa descobrir o lugar que esta ou aquela ciência ocupa no espaço do saber (JAPIASSU, 1992, p. 127).
No domínio científico, a epistemologia tem ainda uma finalidade muito importante para as Ciências Socais Aplicadas que é o da responsabilidade social. È pensando os processos de um conhecimento, seus limites, sua utilidade, seu papel social e político que se pode definir as responsabilidades que tal saber tenha com sua realidade profissional.
Desta forma, a Epistemologia Científica desdobra-se em uma abordagem muito prática e concreta, exercendo um papel direto na produção dos espaços profissionais e sociais, sendo denominada Epistemologia Crítica.
Este tipo de Epistemologia apresenta-se como um desmembramento da epistemologia da ciência, acontecendo em sua aplicação micro-social, e torna-se muito útil às áreas do conhecimento, uma vez que permite constantes interrogações filosóficas que passam a reger princípios éticos e motivacionais entre profissionais e intelectuais. Para Japiassu (1992, p. 138) a epistemologia crítica, pois, tem por objetivo principal interrogar-se sobre a responsabilidade social dos cientistas e dos técnicos.
Assim, percebe-se – em todas as abordagens epistemológicas revisadas – que há necessidade de revelar muitos conhecimentos que ficam adormecidos no fazer cotidiano de uma área do conhecimento. Desde a elaboração das amplas estruturas de pensamento epistemológico (BACON, 2000), proposta pela Filosofia da Ciência, até a ocorrência do processo crítico propiciado em uma área por meio de sua epistemologia crítica, entende-se a necessidade da teoria do conhecimento. Teorizar o conhecimento permite a criação de janelas através das quais uma determinada área do saber pode analisar a paisagem das potências humanas, utilizando seus critérios, seus paradigmas e sua peculiaridade intelectual.

3. Epistemologia e Secretariado – relações em análise

Ao longo da aplicação dos procedimentos metodológicos, foi possível perceber a confluência destes para duas categorias de pesquisa que transversalizam todo o debate proposto, a saber: Obstáculos Epistemológicos ao Secretariado e Demanda Epistemológica em Secretariado.
Desta forma, os dados produzidos são analisados em torno destes dois eixos, sendo sua análise feita de maneira transversal e dialógica, como característico em pesquisas qualitativas multirreferenciais (LESCHER; MATOS, 2002). Os critérios de pré-análise que levaram a elaboração destas duas categorias foram as relações de convergência, divergência e complementaridade apresentada entre os dados levantados, sejam eles de natureza bibliográfica, documental ou de campo (MINAYO, 2008).
Tendo em vista o imenso volume de dados produzidos na pesquisa completa, são analisados aqui apenas aqueles que se relacionam com tais categorias de pesquisa e – consequentemente – relacionam-se com a problemática levantada para este estudo.
Desta forma, o inter-cruzamento dos registros no diário de campo com a bibliografia pesquisada apontaram inicialmente para a necessidade de análise destas categorias. Em seguida, o acompanhamento dos projetos de pesquisa e dos documentos profissionais confirmou e especificou tais focos de discussão teórica.

3.1 - Obstáculos Epistemológicos ao Secretariado

Ao longo do levantamento de dados, identificaram-se diversas situações e depoimentos que apontavam para a existência de obstáculos epistemológicos à teoria do conhecimento em Secretariado. Em análise final do diário de pesquisa, percebeu-se que 75% dos registros apontavam questões de desafio ao estabelecimento de uma teoria secretarial. Também a análise dos projetos e o material do ciclo de debates confirmavam esta assertiva. Por fim, encontrou-se na teorização bibliográfica realizada a categoria Obstáculos Epistemológicos que possibilita a discussão dos dados agrupados de maneira transversal, buscando-se entender os desafios ao estabelecimento de uma teoria secretarial.
De acordo como o estudioso francês Gaston Bachelard (1982) para que qualquer tipo de conhecimento se instaure, ele tem de enfrentar situações que não podem ser resolvidas de imediato, devendo ser trabalhadas e fundamentadas intelectualmente em longo prazo, a isto denominou de Obstáculos Epistemológicos. Dentre estas questões de obstáculo, estão: más interpretações do senso comum, estereótipos, limitações teóricas e conclusões previamente equivocadas. Tais obstáculos podem trazer como conseqüência: estagnação, inércia e até mesmo regressão em uma área de conhecimento se não forem trabalhados epistemologicamente. Portanto, “obstáculo epistemológico” foi o termo criado por Bachelard para referir-se a tudo aquilo que impede, impossibilita, enfim, obstrui o desenvolvimento da ciência.
Inicialmente, o desafio que se evidencia nesta pesquisa não é uma exclusividade do Secretariado, mas é herdado por meio de sua condição de membro das Ciências Sociais Aplicadas. Assim o primeiro obstáculo mapeado refere-se à falsa idéia de que as Ciências Aplicadas não necessitam de fundamentação teórica.
Ao longo da elaboração dos projetos de pesquisa, muitos alunos relataram a dificuldade de conseguir fundamentação epistemológica vinculada diretamente às Ciências Sociais Aplicadas. Também durante pesquisa bibliográfica, constatou-se que a maior parte dos estudos teóricos aprofundados em Ciências Aplicadas acaba por recorrer à fundamentação em outras áreas tendo em vista a parca produção existente.
O referido obstáculo também foi observado ao longo das duas oficinas de debates. Nelas, discentes relatavam que não conseguiam liberação de seus trabalhos para participar de cursos de qualificação que não fossem de natureza técnica. Como justificativa dos empregadores, estava sempre presente a alegação de que não haveria necessidade de grande aprofundamento intelectual nas áreas de Ciências Aplicadas. Assim, formula-se um ciclo vicioso em que há tendência de poucos estudos epistemológicos nas áreas sócioadministrativas, pois parte-se, muitas vezes, do pressuposto que não há necessidade para tal.
O referido obstáculo vem de uma má compreensão da evolução das Ciências Aplicadas. Isto, porque o termo “aplicação” é erroneamente identificado com “tecnicismo”. É evidente que o objeto de estudo destas ciências é diferenciado, pois interage muito próximo das necessidades operacionais. O conhecimento aplicado como seu próprio nome indica, caracteriza-se por seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam aplicados e utilizados, imediatamente, na solução de problemas que ocorrem na realidade. (MARCONI & LAKATOS, 2002, p. 20).
Não há, no entanto, uma ‘licença’ para que tais Ciências sejam superficiais pelo fato de serem aplicadas. Por terem uma proposta acadêmica, estas áreas geram demandas intelectuais complexas que não podem ser ignoradas ou reduzidas à dimensão tecnicista. Elas devem ser trabalhadas em benefício das áreas do conhecimento, maximizando-se a relação teoria e prática, instrução e aplicação. Caso contrário, este domínio científico estaria se condenando à estagnação, exercendo apenas um papel de técnicas sociais aplicadas.
O segundo obstáculo encontrado trata – especificamente – da dificuldade do Secretariado ser visto como área de conhecimento.
Há diversos enlaces que problematizam o estabelecimento do Secretariado Executivo como área do conhecimento tanto no imaginário social e científico como nas práticas acadêmicas e profissionais. Uma das principais causas é o mau entendimento que há sobre a Natureza do Conhecimento em Secretariado.
Na pesquisa bibliográfica, foram encontrados poucos trabalhos cujos focos de análise se relacionavam com a teorização do conhecimento secretarial. Dentre os poucos trabalhos que abordam esta temática, há um artigo cujo interesse específico foi debater a Natureza do Conhecimento em Secretariado. Nele, a autora declara como dedução de pesquisa que o Secretariado Executivo é uma prática e não uma Ciência (HOELLER: 2006, p.144). Pensa-se aqui que é necessário e urgente estabelecer significativa discordância desta afirmativa.
Ora, deve-se primeiro compreender que ciência e prática não se excluem mutuamente, pois o domínio científico é composto de epistemologia, teoria e prática. Há ainda de se compreender que a prática apenas efetua-se com tal, quando está plena de fundamentação, senão torna-se apenas uma ação interventiva.
Reduzir a potência do Secretariado às técnicas de trabalho, confiando-o em um campo de praticismo, seria negar toda a evolução intelectual pela este conhecimento passou nas últimas décadas. O fato de uma ciência ter seu objeto de estudo de natureza aplicada não a destitui do estatuto de ciência.
Uma natureza primordialmente técnica no máximo poderia ser atribuída ao domínio das Técnicas Secretariais (e mesmo assim com ressalvas). No entanto, o campo do conhecimento em Secretariado não se restringe ao estudo das técnicas, englobando: formação para a pesquisa, gestão informacional e tecnológica, investigação interdisciplinar das práticas de assessoria, docência em nível técnico e superior, consultoria secretarial, estudos lingüísticos de base secretarial, gestão de setores específicos e ampla cultura geral. Nesta direção, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Secretariado Executivo (BRASIL, 2004:02), salientam que o bacharel em Secretariado deve apresentar sólida formação geral e humanística, com capacidade de análise, interpretação e articulação de
conceitos e realidades (...) desenvolvendo postura reflexiva e crítica.
A este respeito, ainda é possível acrescentar o seguinte: se a natureza do conhecimento contemporâneo em Secretariado não fosse compatível com a teoria do conhecimento científico, não haveria a necessidade de oferta de cursos plenos de Bacharelado, uma vez que esta modalidade de curso trata de formar cientistas e intelectuais capazes de fomentar teorias do conhecimento nas profissões em que atuam (MEC, 2008), sendo eles muito mais do que meros executores e repassadores de ações operacionais.
Ao longo da pesquisa, discentes apresentaram seus projetos de investigação em diferentes encontros de cientistas sociais aplicados, em estados das regiões sul e sudeste. Na maioria deles não havia sequer a opção Secretariado Executivo dentre as áreas do conhecimento, sendo necessário inscrever os estudos secretariais em áreas correlatas.
Em recente publicação, uma renomada secretária declarou que a formação p referencial para Secretários Executivos seria o curso de Letras (COSTA, 2006, p. 10), sendo que o curso superior de Secretariado Executivo já existe há mais de 30 anos. Evidentemente, tais confusões internas constituem-se como obstáculos à afirmação teórica e profissional do Secretariado.
Atualmente, existem mais de 15 mil alunos matriculados em todo o Brasil em cursos de Bacharelado em Secretariado Executivo, produzindo monografias e trabalhos científicos que problematizam esta área profissional, além de muitos estudantes de pós-graduações latosensu e stricto-sensu que têm no Secretariado seu objeto de estudo.
Assim, faz-se necessário admitir que o Secretariado Executivo atinge na contemporaneidade seu estatuto de Ciência Social Aplicada. Logo, não há ciência cuja natureza de seu conhecimento não seja científica. O que há, é um grande silêncio sobre a teoria geral do conhecimento científico em Secretariado e, por isso, ela parece não existir.
Assim, é necessário desmistificar a idéia de que o Secretariado seja composto de uma só área, bem como desconstruir o falso entendimento do senso comum de que o Secretariado seja uma subárea de outros cursos.
Mesmo que estas questões já estejam evidentemente vencidas em níveis jurídicos, dadas as amplas conquistas asseguradas com a regulamentação profissional (BRASIL, 1996), ideologicamente tais conquistas ainda estão em processo de efetivação.
Logo, como estabelecer a Teoria do Conhecimento a uma área em que tanto a sociedade civil como muitos profissionais não têm clareza da natureza de seu conhecimento científico?
Este é um interessante obstáculo epistemológico com o qual a Teoria Secretarial deve dialogar, entendendo as relações históricas e sociais que produziram tal problemática e buscando avançar rumo a afirmação de novas idéias.
Por sua vez, o terceiro obstáculo mapeado aponta para a escassa teorização da bibliografia em Secretariado, tendo em vista que a mesma se encontra em fase de transição entre os níveis pragmáticos e epistemológicos.
No acompanhamento dos projetos de pesquisa, percebeu-se a grande dificuldade dos discentes em encontrar estudos bibliográficos voltados para a área de Secretariado. Mesmo em temáticas de interesse da profissão (arquivística, gestão de eventos, gestão documental, gestão de pessoal, língua estrangeira, pesquisa aplicada, estudos internacionais etc.) o aporte teórico da bibliografia encontrada está, na maioria das vezes, alicerçado em teorias de outras áreas do conhecimento.
Logo, exige-se grande capacidade de abstração dos alunos para que os mesmos consigam aliar tais áreas aos fundamentos dos estudos secretariais. Além disso, faltam fontes referenciais que esclareçam quais são as relações epistemológicas que reúnem todas estas teorias sob a égide do conhecimento secretarial, ou seja, quais são os traços de coerência e interdependência entre elas e porque o conjunto destas linhas caracteriza a área denominada Secretariado Executivo.

3.2 - Demanda Epistemológica em Secretariado

Se existem diversos obstáculos à construção de uma teoria do conhecimento em Secretariado, também há uma crescente demanda histórica a seu favor.
Desde o fortalecimento dos sindicatos nacionais, à regulamentação da profissão e ao estabelecimento do código de ética e das diretrizes curriculares de ensino, muito se tem feito por um conhecimento legitimado na área secretarial (SABINO, 2004). Este domínio profissional está entre os que mais se revolucionaram no século passado e, certamente, posiciona-se para ser um dos líderes neste início de milênio.
O aparato técnico, estratégico e conceitual da profissão se reformulou quase que inteiramente, tornando-se cada vez mais próximo das novas tecnologias e das demandas de mercado. A educação superior passou a atingir todos os estados da federação brasileira, com conseqüente aumento das produções textuais docentes e discentes. Aos poucos, os encontros profissionais foram incorporando o debate acadêmico e os fóruns de discussão de competências técnicas e intelectuais.
Felizmente, a teorização bibliográfica realizada nesta pesquisa, também apontou para estudos de diversos intelectuais que trabalham na perspectiva de teorizar conhecimentos específicos que se aplicam à área secretarial. Pode-se destacar na área da Comunicação Secretarial (BISCOLI; LOTTE, 2006), no Estágio Supervisionado (BIANCHI; ALVARENGA & BIANCHI, 2004; ANGNES, 2007), na Gestão dos Recursos da Informação (NONATO JÚNIOR, 2007) e na Evolução das Técnicas de Trabalho (SABINO, 2004), dentre muitos outros.
Faz-se necessário, ainda, salientar o surgimento de revistas acadêmicas especializadas e de sites com debates acadêmicos e profissionais em Secretariado (FENASSEC, 2008).
Por tais motivos, é possível afirmar que: sim, estamos em um momento histórico em que há demanda por parte da profissão secretarial para elaboração de uma teoria sobre seu conjunto de conhecimentos (NONATO JÚNIOR, 2002, p. 121).
Tais períodos históricos já foram vivenciados por outras áreas das Ciências Sociais. Ao se realizar a teorização bibliográfica da pesquisa, foi possível elucidar questões do Secretariado a partir de comparação com outras áreas do conhecimento cuja natureza profissional é similar.
Caso típico é o da Biblioteconomia. Esta área do conhecimento sofre há muito tempo com estereótipos negativos sobre seu trabalho, dado fato deste ser feito principalmente por processos organizacionais de natureza técnica e tecnológica. No entanto, nas últimas duas décadas esta área tem se preocupado em mapear seu estatuto científico e levantar questões epistemológicas que se associem com seus trabalhos operacionais. A partir destas proposições, a Biblioteconomia vem dialogando com as Ciências da Informação e da Computação, a Filosofia, a Educação e os paradigmas contemporâneos.
Como resultado, a Biblioteconomia realizou uma grande guinada em seu avanço intelectual. Atualmente, existem dezenas de programas de pós-graduação stricto-sensu1 investigando suas problemáticas em todo território nacional, com expressivo número de intelectuais pesquisadores. Além disso, houve uma maior coesão das teorias existentes anteriormente, construindo-se um “corpo teórico” para esta área. Com isso, ocorreu a abertura de diversos campos profissionais que sequer eram pensados anteriormente.
No caso da Sociologia - largamente reconhecida como uma Ciência Social de grande embasamento teórico - existem áreas que investigam as condições científicas e teóricas da profissão: a epistemologia sociológica. No entanto, há subáreas que trabalham com temas mais aplicados ao cotidiano, como estudos sobre violência, juventude, movimentos sociais, gênero etc. Apesar disso, todas as áreas aplicadas da Sociologia se valem de seu embasamento epistemológico como guia para sua leitura e análise da realidade. Esta referência que todas as áreas da Sociologia fazem a sua teoria do conhecimento fortalece e credibiliza tal área de estudo, conferindo-lhe critérios de cientificidade em suas atividades aplicadas.
Histórica e academicamente, os estudos atuais em secretariado passam por um momento de demanda epistemológica. Isto fica evidente em todos os dados coletados na pesquisa, principalmente no acompanhamento continuado dos estudantes. Neste, 90% dos acadêmicos demonstraram necessidades de um aparato teórico amplo que justifique e articule suas micro-áreas de pesquisa com o Secretariado em geral. Ao longo da análise documental feita nos projetos, percebeu-se – em unanimidade - que os acadêmicos tentaram direciona seu objeto de estudo para as demandas intelectuais específicas da profissão secretarial. Para tanto, sempre justificavam tal importância e apontavam para a inovação que significava esta relação, tendo em vista a não existência – até então – de uma macro-teoria do Secretariado.
Assim, os registros de pesquisa apontam que o Secretariado passa por um período de riqueza e, ao mesmo tempo, incerteza acadêmica. A riqueza advém da expansão e emancipação política da área, além do aumento da produção de pesquisas. A incerteza, por sua vez, é resultado da falta de amparo em epistemologias que orientem o crescimento das produções científicas, capazes de articular todas as áreas de produção científica do Secretariado, aproximando-as por meio da definição de um objeto de estudo integrado.
Neste paradoxo, demanda-se por um movimento de fortalecimento da identidade intelectual do profissional secretário, por isso, a necessidade de estudos epistemológicos nesta área, a fim de mapear sua potência científica e propor uma Teoria Geral do Secretariado – TGS.
Então, percebe-se que há uma demanda latente para a formulação de um campo intelectual próprio sobre as questões secretariais. Não há mais de se ancorar os estudos e práticas do Secretariado em epistemologias de outras áreas, tais como: Administração ou Letras. O conhecimento secretarial já atinge tamanha complexidade de experiências e pesquisas que necessita da discussão de uma Teoria do conhecimento própria, afirmando seus objetos e objetivos de estudo, fortalecendo o Secretariado em sua unidade de informação.
Há, evidentemente, a necessidade de diálogo e aprendizagem constante com estas áreas, mas não na perspectiva de um conhecimento pedinte (que interage com o outro para pedir-lhe a fundamentação teórica que lhe falta) e sim na condição de um conhecimento dialógico (que se relaciona com outros para uma interdisciplinaridade de potencialidades teóricas).
Logo, trabalha-se na perspectiva de estabelecer um conhecimento que tenha a autonomia por fundamento e a interdisciplinaridade por parâmetro de realidade (FREIRE,
2000).

4. Para onde vai a Epistemologia Secretarial? - considerações finais e encaminhamentos da pesquisa

Em todos os aspectos, os resultados da pesquisa apontam para a necessidade da área de estudo “Epistemologia do Secretariado” e para sua afirmação como domínio do conhecimento científico, respondendo e justificando afirmativamente às interrogativas da investigação.
Os conhecimentos gerados a partir destes estudos epistemológicos em Secretariado podem ser utilizados em duas perspectivas: 1) do secretário profissional-intelectual – todo secretário capaz de se colocar como intelectual em seu campo de trabalho, lendo-o, interpretando-o, analisando-o, criticando-o e teorizando-o. 2) do secretário pesquisador-intelectual – docentes e pesquisadores que tenham por propósito a formulação de conceitos, encaminhamentos, teorias e filosofias que sustentem cientificamente o campo do conhecimento em Secretariado.
Desta forma, entende-se que a Epistemologia do Secretariado não é um campo abstrato que esteja além das práticas secretariais e sim, uma nova perspectiva para compreensão do conhecimento em Secretariado Executivo, surgindo das atuais demandas geradas nesta área. Logo, a Epistemologia Secretarial pode contribuir significativamente com o avanço das técnicas, das práticas operacionais, da docência, da divulgação e da pesquisa na profissão, funcionando como um veículo de valorização das diversas formas do saber e do fazer profissional em Secretariado.
Assim, os resultados até então mapeados propõem:

• Compreensão da Epistemologia do Secretariado;
• Articulação entre teoria e prática / epistemologia e cotidiano para a afirmação do Secretariado como área do conhecimento científico;
• Fundamentação e peculiarização do conhecimento secretarial nas Ciências Sociais Aplicadas;
• Afirmação do profissional secretário como intelectual de sua área;
• Utilização profissional e/ou intelectual dos conhecimentos epistemológicos;
• Entendimento da Natureza Científica do conhecimento secretarial no nível de Bacharelado;
• Diálogo teórico apreciativo com outras Ciências Sociais Aplicadas;
• Estabelecimento de uma Teoria Geral do Secretariado - TGS;
• Posicionamento teórico na condição de Conhecimento Dialógico.

Na continuidade desta investigação, procurar-se-á entender mais detalhadamente as proposições acima levantas por este estudo introdutório, bem como será dado prosseguimento ao processo de análise do material no que tange à outras problemáticas do conhecimento científico em Secretariado. Ao final, pretende-se elaborar uma proposta acadêmica de Teoria e Epistemologia do Secretariado, por meio de publicação bibliográfica.
Acredita-se, no entanto, que os resultados desta investigação já revelam suficiente potência para que se possa entender, de maneira preliminar, a Epistemologia Secretarial, bem como os seus desafios e as característica de sua demanda.
Ao se fazer isso, investiga-se a possibilidade de uma outra realidade no interior da existente, buscando romper a ordem determinada do mundo por um esforço de imaginação (CHAUI, 1990:20).
Em suma, entende-se que fomentar a criação de uma Teoria do Conhecimento em Secretariado significa um ato de abertura e fortalecimento das diversas áreas do conhecimento secretarial. Assim, entende-se que aprimorar as muitas teorias que subjazem no saber secretarial e fazê-las dialogar epistemologicamente é um ato de engajamento e esmero pela profissão.
Trata-se de um novo passo para o crescimento do domínio do saber em Secretariado Executivo. Como bem salienta Zilles (1994) a este respeito: a produção do conhecimento é uma conjugação de intelecto e emoção, de razão e vontade. A ciência (epistéme) é resultado da inteligência e do amor pelo conhecimento.

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1 Pós-graduações em níveis de mestrado e doutorado, com linhas de pesquisa bem definidas e ampla produção científica.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Livro Epistemologia e Teoria do Conhecimento em Secretariado Executivo: A Fundação das Ciências da Assessoria







INTRODUÇÃO
PARA FAZER FALAR O SILÊNCIO


Amigos Leitores
O conteúdo que apresento a vocês ao longo desta obra é fruto de dez anos de dedicação aos estudos acadêmicos na área das assessorias (1999-2009). Durante está década, desempenhei diversos papéis ligados ao Secretariado, atuando como: aluno de curso de Bacharelado em Secretariado Executivo, presidente de diretório acadêmico deste curso, pesquisador de iniciação científica, monitor, fundador de encontros de produção científica, estagiário em Secretariado, profissional em organizações públicas e privadas, docente de nível técnico e superior, orientador e pesquisador profissional na área das assessorias.
Desde o início desta jornada, identifiquei que a afirmação do conhecimento em Secretariado era um dos maiores desafios desta área. Por isso, ao longo destes anos também me dediquei aos conteúdos da Filosofia da Ciência e da Gestão do Conhecimento. Nesta caminhada, realizei diversas pesquisas que investigaram situações de fronteira entre o Secretariado & as Teorias do Conhecimento. Seus resultados sempre apontaram para a necessidade de instaurar uma teorização para o conhecimento secretarial que é praticado no meio acadêmico, despertando nesta área sua identidade intelectual.
Em cada pesquisa realizada fui inspirado pelas ricas experiências demonstradas por diversos profissionais, alunos e professores da área. Os conhecimentos técnicos e humanos aprendidos em cada situação aguçaram o desejo de identificar uma estruturação teórica para Secretariado, fazendo com que me dedicasse cada vez mais aos estudos da Filosofia e da Teoria da Ciência.
Assim, nos últimos três anos, tenho reunido resultados de pesquisas e vivências anteriores, bem como realizado estudos mais aprofundados, para unificar uma proposta de fundação científica que abrigue as questões epistemológicas do Secretariado Executivo: as Ciências da Assessoria.
Alguns resultados preliminares desta ampla pesquisa foram divulgados no artigo “Epistemologia do Secretariado Executivo: por uma teoria do conhecimento em Secretariado”, que obteve o primeiro lugar em premiação de destaque nacional coordenada pela Federação Nacional de Secretários e Secretárias – FENASSEC. Estas idéias estão sendo também estão sendo recebidas com muita empolgação e carinho por diversos líderes, profissionais, professores e acadêmicos de Secretariado Executivo, pois todos estes sujeitos se interessam pelo desenvolvimento do Secretariado e percebem que a estruturação epistemológica desta área é uma necessidade latente e uma oportunidade de crescimento.
Não há como conceber o atual domínio das assessorias apenas como uma área de estudos técnicos. Nas universidades, ofertamos há quarenta anos cursos de bacharelado (que se destinam a formação de profissionais pesquisadores) e ocupamos uma vaga nos Centro de Ciências Aplicadas. Na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO – os profissionais de Secretariado Executivo estão classificados no segundo Grande Grupo (GG2), ou seja, como pertencentes ao domínio das Ciências e das Artes. Mas, se somos uma ciência com todo o reconhecimento oficial necessário, eu lhe pergunto, caro leitor: Qual é nosso estatuto científico? Como está mapeado nosso objeto de estudo? Qual é a Ciência que representa o agrupamento geral dos conteúdos praticados e pesquisados pelo assessor executivo?
Bem, estas são questões até então silenciadas! São perguntas geralmente feitas por todos aqueles que estão engajados com o conhecimento em Secretariado tanto nas universidades quanto no ambiente profissional. Intuitivamente, todos concordam que há uma ciência que rege o fazer e o saber das pesquisas secretariais, entretanto, ela não se encontra escrita até o presente momento, deixando uma lacuna expressiva nas relações de identidade e legitimidade do conhecimento produzido pelo Secretariado Executivo nas universidades.
É exatamente sobre este silêncio epistemológico do Secretariado que se desenvolve esta obra, desejando explicitar o universo vivido, mas ainda não estruturado, das Ciências da Assessoria. Para tanto, realiza-se uma crítica na perspectiva destacada por Marilena Chauí quando a autora afirma que criticar é fazer falar o silêncio. Não se trata de opor um pensamento verdadeiro a uma idéia falsa, e sim de discursar sobre um campo do conhecimento que está silenciado, trazendo à tona sua importância para as práticas humanas.
Como relata a citada filósofa, procura-se “[...] investigar a possibilidade de uma outra realidade no interior da existente, buscando romper a ordem determinada do mundo por um esforço de imaginação.” (CHAUI, 1990, p. 2).
Assim, elabora-se um discurso sobre o processo de aquisição e estruturação do conhecimento estabelecido no domínio das assessorias. Desta forma, inicia-se um processo filosofante na área de Secretariado Executivo, já que o ato de filosofar acontece quando elaboramos idéias e produzimos conceitos complexos. (DELEUZE & GUATTARI, 1992).
Para tanto, ao longo desta obra apresento caminhos para que possamos entender como as Ciências da Assessoria constituem o legítimo domínio científico do Secretariado Executivo, realizando ampla contextualização social, filosófica, histórica e intelectual dos fatores que levam a fundação da referida ciência.
No primeiro capítulo do livro apresento o panorama em que se produzem os conhecimentos, bem como alguns paradigmas da ciência contemporânea. A partir de então, convido o leitor a refletir sobre as demandas que geraram as Ciências da Assessoria, analisando seu estabelecimento na evolução intelectual e educacional do Secretariado Executivo, bem como a partir de “estudos apreciativos” em outras ciências sociais.
Entretanto, não há como elucidar nossas idéias sobre a fundação de uma ciência sem que entendamos os principais conceitos e atuações da Epistemologia. Por isso, o capítulo seguinte dedica-se a um breve passeio pelas muitas faces desta disciplina filosófica, abordando diferentes concepções de Epistemologia Geral, Histórica, Crítica e específica. Nele, também são abordados ensinamentos epistemológicos de alguns importantes filósofos que influenciam o pensamento ocidental.
Com os fundamentos adquiridos nos capítulos anteriores, o terceiro capítulo analisa o Desenvolvimento Histórico da profissão de Secretariado e suas demandas ao estabelecimento das Ciências da Assessoria.
Na sequência, o quarto capítulo aborda as questões centrais e os obstáculos à Epistemologia do Secretariado Executivo. Partindo deste embasamento, o capítulo cinco cumpre uma importante missão: demarcar o campo de atuação científica das Ciências da Assessoria, traçando seu objeto de estudo, bem como cada um dos eixos que o compõem. Nesta perspectiva, são apresentados alguns conceitos que norteiam as práticas acadêmicas em Secretariado.
O sexto capítulo demonstra como os conteúdos acadêmicos de secretariado podem ser articulados em torno da Teoria Geral do Secretariado – TGS. Esta teoria exerce o papel de integrar a dimensão científica das assessorias com os conteúdos organizacionais pesquisados e praticados nas atividades acadêmicas e profissionais. Neste capítulo, ainda são tecidas considerações sobre o papel exercido pela gestão da informação para a consolidação da TGS e das Ciências da Assessoria.
Por fim, apresento no último capítulo algumas reflexões sobre a Gestão do Conhecimento nas Assessorias e os Paradigmas da Ciência. Neste momento, realiza-se um amplo panorama dos principais conceitos instituídos na gestão do conhecimento atual, mapeando o campo conceitual que o Secretariado Executivo e as Ciências da Assessoria deverão compreender para atuar de maneira fundamentada e interdisciplinar.
A partir das linhas que se seguem por toda esta obra, convido-o a acompanhar as trilhas que construo para chegar às Ciências da Assessoria, ao conhecimento e, sobretudo, a nós mesmos, seres humanos, fontes incessantes de saber e vida.
Assim, chamo-o ao desafio de aprender a ser, a viver, a arriscar e descobrir novos caminhos nos labirintos da Ciência. A produção do conhecimento se faz da conjugação entre intelecto e emoção, de discurso e afetividade. A ciência que se produz nesta obra é resultado de dedicação e amor ao conhecimento.

Raimundo Nonato Júnior

Sobre o Blog

Este blog é destinado a pesquisadores da área Secretarial, envolvendo Docentes, Discentes e Profissionais.

Contato: profjunior@unicentro.br